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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A Etiópia Socialista



Etiópia é um país africano cujo território, segundo descobertas paleontológicas, se localiza a aparição do homo sapiens, constituindo o assentamento humano mais antigo na Terra e um dos poucos estados que não foi parte de um império colonial com exceção dos 5 anos que esteve sob a ocupação da Itália fascista de Mussolini. Em 1974, um golpe de Estado por uma parte do exército com o apoio de sindicatos e organizações populares, derruba a monarquia feudal do imperador  e fanático religioso Haile Selassie, que mergulhou o país em analfabetismo, subdesenvolvimento e inanição, com a existência inclusive da escravidão nas terras dos proprietários.

Após a proclamação da República Popular, e uma série de expurgos ante às pretensões de alguns comandantes militares de alta patente em manter sua antiga hegemonia, o tenente-coronel Mengistu Haile Mariam, líder do movimento DERG reconduz a situação para a organização de um estado socialista, se nacionaliza o banco e várias empresas, nacionalizaram as minas e as terras, sendo redistribuídas promovendo cooperativas agrícolas, uma campanha de alfabetização em massa foi empreendida deslocando milhares de voluntários técnicos e estudantes para as áreas rurais, criando conselhos populares de educação, produção e defesa, nas cidades se organizaram os “kebeles”, comitês populares territoriais semelhantes aos sovietes russos, para o desenvolvimento da democracia popular, gerando uma mobilização massiva do povo a âmbito nacional e uma ressurreição moral, do que até então era uma sociedade inerte, que dará honra ao nome da capital do país “Addis Ababa”, que no idioma amárico significa “Nova flor”.

A partir de então, rompem relações com os Estados Unidos, expulsando o pessoal diplomático e militar e se proíbem várias de suas instituições culturais estabelecidas no país, que serviam como uma cobertura para a divulgação de propaganda e o recrutamento de agentes, e posteriormente começam a firmar tratados de cooperação com a URSS, Cuba, Líbia e a República Popular Socialista de Yemen do Sul.

As forças reacionárias não tardaram a começar a criar uma resistência organizada ao novo estado de coisas, com financiamento e assessoramento dos EUA, Inglaterra, Itália, e ditaduras feudais como Arábia Saudita, e isto se materializará no assassinato de dirigentes sindicais, atentados terroristas contra membros do governo popular, a queima de plantações e armazéns, sabotagem a cooperativas, tentativas de golpe, bloqueio econômico internacional dos países imperialistas, impedindo a venda de matérias-primas ou peças de reposição e instigação de conflitos étnicos e territoriais para promover a divisão e estrangular o país.

Estas tensões nacionalistas, particularmente com os independistas da Eritreia, que seriam utilizados pelas potências ocidentais para cortar a saída ao mar da Etiópia, acabaram desembocando em um longo enfrentamento armado, tendo a Somália se somando a ele, que tentou invadir a região Etíope de Ogaden com apoio norte-americano, e como se isso não bastasse, também surgem diferentes guerrilheiros mercenários e alguns grupos terroristas esquerdistas, manipulados e infiltrados pelo imperialismo para desmembrar o país, que por 20 anos enfrentou uma guerra permanente em suas fronteiras e no front interno. Não obstante, o país recebera ajuda da URSS, Bulgária, Líbia, Coreia do Norte, Yemen e especialmente Cuba, que durante a invasão somali enviou uma missão militar internacionalista, dos quais mais de uma centena de voluntários caíram em combate, um deles Orlando Cardoso Villavicencio, capturado e preso por 11 anos em uma prisão da Somália.

Em 1990, junto à queda do Bloco socialista na Europa, a experiência etíope veria seu fim, Mengistu seria derrubado em um golpe armado e acabaria se exilando no Zimbabwe, enquanto o território de Eritreia se tornou definitivamente independente. Hoje os amargos frutos da chegada da “democracia” burguesa e a adoção do sistema de “livre mercado”, se manifestam no novo crescimento dos índices de analfabetismo e pobreza, que haviam sido varridos pela revolução.


Texto publicado no site Primera Linea
Tradução de Gabriel Duccini























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