É impressionante como um filme
baseado em quadrinhos, e, principalmente, sem qualquer intenção direta consegue
evidenciar de forma tão clara a completa decadência da sociedade baseada
nas regras de mercado e, consequentemente, os efeitos nefastos que tal podridão
gera numa grande metrópole chamada ''Gotham
city'', mas que poderia ser São Paulo, Rio De Janeiro, ou qualquer outra
dentro do território nacional.
De inicio é importante frisar que o
intuito nesse texto não é fazer uma análise cinematográfica do filme, ou
mesmo das bases éticas do protagonista, pois, isso pode e será feito em outro
momento através de outras pessoas. O cerne da questão aqui é, sem duvida, o
arquétipo do caos e barbárie muito bem transmitida por essa obra
surpreendentemente complexa.
Numa cidade dominada por ''super-ratos'',
inundada de lixo e sofrendo cortes sistemáticos no seu orçamento
social, Gotham city, é apresentada
completamente jogada as traças, a população geral, em especial os
trabalhadores, sofrem de maneira constante o sucateamento dos serviços públicos
e respectivamente das suas próprias vidas.
Fica claro o desgaste
psíquico e a bomba relógio sendo armada a cada etapa em que o filme
apresenta. As pessoas não tem mais paciência, a violência impera, e o ar pesado
que circulante na cidade transparece que a qualquer momento o pavio será acesso
e uma revolta irá acontecer.
Não, não existem grupos
políticos organizados ali, partidos, ou algum líder que represente os
interesses populares. Há única classe pertencente ao poder é a elite,
refletida em Thomas Wayne, que detêm o poder financeiro majoritário
da cidade. E, vejam só, deseja retirar, Gotham city, do ''buraco'', por meio de seus
projetos de caridade ligados ao seu império econômico.
O interessante é que as elites do
mundo inteiro sempre são apresentadas como reserva moral, religiosa,
intelectual dos seus países. Porém, vez ou outra, quando não é possível abafar,
surgem noticias que desabonam tais reputações ''ilibadas''. No filme são muito
mais perceptíveis as reações do povo trabalhador, ou seja, da maior parte da
população, frente ao que verdadeiramente representa a figura do Burguês, para a
pessoa comum.
Seja quando executivos do império
financeiro da família Wayne são assassinados (apresentados pela imprensa
como ''homens de bem'', santos, quando é possível visualizar durante a história
que tinham o comportamento completamente o contrário do formulado pelos meios
de comunicação), seja na campanha de denuncia da mídia em busca do assassino
(a criminalização com ridicularização que tem o resultado inverso perante a
população), ou na criação do símbolo que explodira a ''revolução'', o palhaço (Coringa).
O coringa se desprende da realidade,
partindo da própria realidade concreta perturbadora e doentia que a degeneração
de um sistema econômico e social gera quando não existem as condições mínimas
de subterfúgios. O cinza constante que suga as energias do povo e poda toda a
sua capacidade de desenvolvimento individual e coletivo, sendo jogado
sistematicamente á marginalidade da existência humana e longe da relativa
plenitude civilizacional que uma sociedade pode vivenciar.
Como disse no filme Batman:
Cavaleiro das Trevas, o outro coringa(interpretado pelo Heath Ledger), a ''chave do caos é o medo'', e a
criação do medo em diversas vertentes dentro da sociedade é do intimo interesse
das elites, pois, o medo paralisa, e um povo que é explorado até a ultima gota e
não se move em contestação materializa o sonho burguês desde a sua criação.
O caos não são os carros queimados,
as ocupações, ou os enfrentamentos com as forças da ordem como o filme mostram,
o verdadeiro caos é o completo imobilismo diante de milhões de desempregados,
dos cortes sociais, da sujeira urbana entre tantas outras coisas. Thomas Wayne,
assim como outro burguês aleatório deseja que isso seja visto com naturalidade,
mas sabemos que os ponteiros do relógio não estão mais no sentido correto há
muito tempo.
O verdadeiro caos é a manutenção do status quo!
Interessante como a burguesia da idade Média sempre teve privilégios em troca de favores seja mantendo terras ou comércio para os desprovidos "tomarem conta" em troca de miséria. Esse sistema capitalista segue até hoje sob o disfarce de CLT onde em troca de um registro e um salário que mal paga a sobrevivência, permanecemos dando crédito de burguesia aos grandes empresários.
ResponderExcluirEssa análise atual sobre o cenário do filme só mostra o qual desigual é o capitalismo.
Excelente análise do filme e espero que surjam novas reflexões a cerca da importância de buscar meios e condições igualitários para todos os cidadãos.