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quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O Coringa e a decadência do capitalismo

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É impressionante como um filme baseado em quadrinhos, e, principalmente, sem qualquer intenção direta consegue evidenciar de forma tão clara a completa decadência  da sociedade baseada nas regras de mercado e, consequentemente, os efeitos nefastos que tal podridão gera numa grande metrópole chamada ''Gotham city'', mas que poderia ser São Paulo, Rio De Janeiro, ou qualquer outra dentro do território nacional.

De inicio é importante frisar que o intuito nesse texto não é fazer uma análise cinematográfica do filme, ou mesmo das bases éticas do protagonista, pois, isso pode e será feito em outro momento através de outras pessoas. O cerne da questão aqui é, sem duvida, o arquétipo do caos e barbárie muito bem transmitida por essa obra surpreendentemente complexa.

Numa cidade dominada por ''super-ratos'', inundada de lixo e sofrendo cortes sistemáticos no seu orçamento social, Gotham city, é apresentada completamente jogada as traças, a população geral, em especial os trabalhadores, sofrem de maneira constante o sucateamento dos serviços públicos e respectivamente das suas próprias vidas.

Fica claro o desgaste psíquico e a bomba relógio sendo armada a cada etapa em que o filme apresenta. As pessoas não tem mais paciência, a violência impera, e o ar pesado que circulante na cidade transparece que a qualquer momento o pavio será acesso e uma revolta irá acontecer.

Não, não existem grupos políticos organizados ali, partidos, ou algum líder que represente os interesses populares. Há única classe pertencente ao poder é a elite, refletida em Thomas Wayne, que detêm o poder financeiro majoritário da cidade. E, vejam só, deseja retirar, Gotham city, do ''buraco'', por meio de seus projetos de caridade ligados ao seu império econômico.

O interessante é que as elites do mundo inteiro sempre são apresentadas como reserva moral, religiosa, intelectual dos seus países. Porém, vez ou outra, quando não é possível abafar, surgem noticias que desabonam tais reputações ''ilibadas''. No filme são muito mais perceptíveis as reações do povo trabalhador, ou seja, da maior parte da população, frente ao que verdadeiramente representa a figura do Burguês, para a pessoa comum.


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Seja quando executivos do império financeiro da família Wayne são assassinados (apresentados pela imprensa como ''homens de bem'', santos, quando é possível visualizar durante a história que tinham o comportamento completamente o contrário do formulado pelos meios de comunicação), seja na campanha de denuncia da mídia em busca do assassino (a criminalização com ridicularização que tem o resultado inverso perante a população), ou na criação do símbolo que explodira a ''revolução'', o palhaço (Coringa).

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O coringa se desprende da realidade, partindo da própria realidade concreta perturbadora e doentia que a degeneração de um sistema econômico e social gera quando não existem as condições mínimas de subterfúgios. O cinza constante que suga as energias do povo e poda toda a sua capacidade de desenvolvimento individual e coletivo, sendo jogado sistematicamente á marginalidade da existência humana e longe da relativa plenitude civilizacional que uma sociedade pode vivenciar.

Como disse no filme Batman: Cavaleiro das Trevas, o outro coringa(interpretado pelo Heath Ledger), a ''chave do caos é o medo'', e a criação do medo em diversas vertentes dentro da sociedade é do intimo interesse das elites, pois, o medo paralisa, e um povo que é explorado até a ultima gota e não se move em contestação materializa o sonho burguês desde a sua criação.

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O caos não são os carros queimados, as ocupações, ou os enfrentamentos com as forças da ordem como o filme mostram, o verdadeiro caos é o completo imobilismo diante de milhões de desempregados, dos cortes sociais, da sujeira urbana entre tantas outras coisas. Thomas Wayne, assim como outro burguês aleatório deseja que isso seja visto com naturalidade, mas sabemos que os ponteiros do relógio não estão mais no sentido correto há muito tempo.




O verdadeiro caos é a manutenção do status quo!
















Um comentário:

  1. Interessante como a burguesia da idade Média sempre teve privilégios em troca de favores seja mantendo terras ou comércio para os desprovidos "tomarem conta" em troca de miséria. Esse sistema capitalista segue até hoje sob o disfarce de CLT onde em troca de um registro e um salário que mal paga a sobrevivência, permanecemos dando crédito de burguesia aos grandes empresários.

    Essa análise atual sobre o cenário do filme só mostra o qual desigual é o capitalismo.

    Excelente análise do filme e espero que surjam novas reflexões a cerca da importância de buscar meios e condições igualitários para todos os cidadãos.

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