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quarta-feira, 13 de março de 2019

O capitalismo conquistou o Rap nacional ?

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O Rap nacional vem se transformando tanto em sua forma como em seu conteúdo, é um processo de mudança iniciado, principalmente, a partir da nova leva de MC´s que surgiram no cenário da grande mídia nos anos de 2011, 2012. Entre eles alguns nomes como o Emicida, Projota, Costa Gold etc.

São apenas alguns exemplos que retratam o inicio da mudança substancial do Rap estruturalmente falando. Essas novas safras surgiram no vácuo deixado ''institucionalmente'' pelo Racionais Mc´s que havia dado um ''tempo'' desde o seu ultimo álbum ''Mil trutas Mil tretas'' lançado em 2006  fato bem representativo da inexistência comunicacional que as bandas e cantores de Rap tinham naquele período.

Mas as famosas batalhas da São Bento nunca pararam de produzir e de lá recomeçaram a despontar novos nomes que atrairiam a atenção do público e fariam fama em cima de um Rap, a qual enxergava, precisava ser renovado.


A criação de um novo ''mercado''


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E com a nova safra, outros caminhos dentro do gênero foram sendo construídos e expandidos. Uma das criticas mais comuns dentro  do Rap nacional era que não havia a mesma estrutura econômica e reconhecimento midiático que o Hip Hop norte-americano e, portanto, para que isso acontecesse existiria a necessidade de introduzir a temática festiva, superficial e sem a tradicional visão social como base para as letras.

A politica econômica de um país pode transformar diversos aspectos culturais, comportamentais e de consumo da população. E o Brasil mudou, particularmente no inicio dos anos 2000 com governo Lula até o auge ''aceleracionista'' de 2013 da gestão Dilma.

Consequentemente, o boom dos investimentos e relativo avanço social brasileiro, particularmente dos mais pobres alterou a percepção social da periferia, em particular, da juventude. Criando, então, um ''abrandamento'' ideológico e da inquietação costumeira dessa parcela da população.Hoje, excessivamente em busca do consumo, do ter, baseada em marcas e estilos vindos das propagandas televisas e internet do que na letra mais ''dificil'' e ''chata'' transformadora da reflexão critica.

O ''surgimento'' do Trap representa exatamente essa linha, digamos, revisionista dentro da nossa cultura nacional do que conhecemos como Rap. É a influência norte-americana de mercado que muda a essência rebelde e critica de um gênero que desde o seu nascimento em terras tupiniquins sempre teve apenas um objetivo: a denuncia e a conscientização da população periférica e favelada contra a violência policial e a falta de apoio estatal para os trabalhadores.

Obviamente não existe um problema em si quando se canta sobre alegria, festas, mulheres entre outras coisas dentro do Rap. Até porque, evidentemente, o trabalhador, o jovem pobre, também vive outras coisas além das dificuldades denunciadas historicamente dentro do gênero. 


Não é  novidade alguma que diversas empresas entraram de cabeça no mercado do Rap, , e o que antes seria um sacrilégio, agora, é comemorado por muitos, como por exemplo, empresas patrocinarem rappers, rapper fazer propaganda para banco (Caso do Emicida). A grande questão que se coloca é: Qual será a linha majoritária que veremos dirigir o Rap nos próximos anos?

Não devemos deixar de citar, evidentemente, que nos dias de hoje a luta entre as duas linhas: a representada por MC´s como Djonga, Diomedes, ADL, MV Bill, que mantém a origem da batalha cultural e social contra o status quo e a outra linha de festa como Hungria Hip Hop, Matue30, entre outros que buscam se limitar a parte comercial e midiática do movimento estão praticamente no mesmo nível de ''força'' dentro desse mercado, mesmo tendo perspectivas diferentes no que tange os projetos musicais.


O Trap de mercado vencerá ?



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A tradição vencerá ou a lógica do mercado conseguira contaminar e ditar os rumos do ultimo reduto rebelde da musica nacional?

O samba foi em grande medida naufragado pelos interesses das gravadoras, ou seja, a famosa industria cultural que, claro, vai muito além da produção musical e sua lógica de funcionamento.

É possível ver um processo parecido acontecendo com o funk, antes um gênero criminalizado e afastado das grandes casas noturnas e canais de televisão, hoje, chave mestra de qualquer musica pop. Todavia, perdendo completamente o conteúdo marginal(seja de critica ás situações vividas na favela ou de exaltação do crime) apenas servindo como o novo axé do século XXI.

Ao que parece, por enquanto, existe um eixo relativamente equilibrado, com as duas linhas dentro do RAP avançando sobre o mesmo público, dois estilos convivendo sem que aconteça a subjugação do outro. Mas, com o atual cenário politico nacional a rebeldia antes morna e ''fora de moda'' voltou a bradar em alto e bom som pelos graves dos beats mais ouvidos pelos fones por ai.


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